segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Outra vida na escola

A escola ganha, de repente, outra vida: os rostos, os olhares, os risos, a alegria, o reencontro, a curiosidade, as dúvidas, a burocracia ainda por completar, os horários, as turmas, os novos, os profs, as férias que já lá vão, olá como está, professor vai ficar com a nossa turma neste ano, vocês cresceram hein, já tinha saudades do pessoal, sabe quem são os outros profs, que actividades vamos ter, quem é director de turma, o que faz falta, os rostos, os olhares, as ânsias, as vontades, a energia, os alunos, os alunos, os alunos.
Cruzam-se recordações, partilha-se um pouco do espaço temporal que nos separou, encontram-se regras, discutem-se pormenores, a gente já ouviu isso mas faz falta repetir, já temos os "setores" todos, não acha que devia haver o clube de e mais o de, cruzam-se ideias, cruzam-se vidas, há cá um colega novo na turma de onde é que ele vem ó pá tenho que lhe falar, temos que ir agora buscar as senhas para os transportes, olha a professora de, eh pá e já tens os livros e os materiais, hoje não trouxe esferográfica, e é hoje que elegemos os delegados de turma, não há direito a fotografia para a tomada de posse, foram eleitos vão assinar a acta e batemos-lhes palmas, ó "setorazinha" não vai ficar connosco, entrelaça-se vida e partilha.
Está o ano lectivo a começar e somos levados a entrar com olhos claros nesta efervescência de ritmo e de vida. É bom reencontrar a escola que tinha entrado de férias! E recordo-me o que Sebastião da Gama registou no seu Diário no seu primeiro dia de estágio, em 11 de Janeiro de 1949: "Vão ser as aulas de Português o que eu gosto que elas sejam: um pretexto para estar e conviver com os rapazes, alegremente e sinceramente. E dentro dessa convivência, como quem brinca ou como quem se lembra de uma coisa que sabe e vem a propósito, ir ensinando. Depois, esta nota importantíssima: lembrar-se a gente de que deve aceitar os rapazes como rapazes; deixá-los ser: porque até o barulho é uma coisa agradável, quando é feito de boa-fé."
Chega-se a casa e relembra-se o rol das emoções próprias e dos outros. E, numa navegação rápida, cai-se no Correio da Educação e lê-se, na edição de hoje, o artigo "Dicas para um bom ano lectivo", de José Matias Alves. Ainda que não sejamos muito atreitos a recomendações de virtude e exemplo, vale a pena mergulhar nestas "dicas" porque ajudam. E todos nós, professores e educadores, sabemos como o sucesso de um aluno ou de uma turma pode passar pela relação e pelo que ela implica. As "dicas" são breves, mas são um bom lembrete.

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