terça-feira, 27 de novembro de 2007

Hoje, no "Correio de Setúbal"

Diário da Auto-Estima – 71
Maurício Costa – A Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão (LASA) vai promover, em 28 de Novembro e em 1 de Dezembro, uma homenagem a Maurício Costa, que, à data do seu falecimento, em 27 de Fevereiro de 2006, era o seu Presidente da Direcção, cerimónia que passa pela inclusão do nome do professor na toponímia de Setúbal e por um encontro em que será abordada a sua acção e em que não faltarão os testemunhos. Maurício Costa foi uma das primeiras pessoas que conheci quando vim viver para Setúbal e sempre me impressionou nele a sua actividade e a vontade férrea que demonstrava de fazer coisas inovadoras, de promover a cidade, de querer incentivar projectos que com essas duas qualidades se cruzassem. Estive com Maurício Costa em várias situações e estabelecemos uma relação de proximidade também cimentada nos alicerces que atrás mencionei. Sei que o seu feitio, mercê de muitas circunstâncias, nem sempre foi apreciado por todos. Mas não posso reter o apreço que por ele senti. Nunca ouvi da sua parte manifestações de resistência ou de reticências a ideias novas, antes pelo contrário, senti encorajamentos e apoios. Foi a imagem de um lutador e de um cidadão sempre aberto à inovação e permanentemente atento ao mundo, e à sua cidade em particular, que dele me ficou. É essa que quero preservar. É bom que a memória colectiva mantenha o seu nome, mesmo pelo que pode ser um sinal de exemplo para uma atitude de cidadania, que, nos tempos que correm, tem imensas marcas de frouxidão!
Baptista-Bastos – Sempre que leio um texto de Baptista-Bastos, seja literário ou jornalístico, três nomes de clássicos portugueses se me impõem de imediato: António Vieira, pela clareza dedutiva e pela lógica do raciocínio; Camilo, pela velocidade da acção e pela rapidez da percepção das histórias; Eça, pela atenção dada à imagem do outro, numa adjectivação que ora caricatura, ora aprofunda, ultrapassando o que é visível à comum das criaturas. Li os dois últimos livros de Baptista-Bastos – As bicicletas em Setembro e A bolsa da avó Palhaça – e confirmei esta minha ideia. Um e outro fazem percursos autobiográficos na Lisboa da infância do autor; um e outro se deleitam na memória e na afirmação da identidade; um e outro passam por questões que também são do homem do nosso tempo, como a intriga, a solidão, a morte, o sonho, a memória. Em ambos está presente o fascínio e o afecto pela palavra dita e pela palavra escrita, porque “as palavras comportam várias direcções e possuem o peso que cada um lhes deseja emprestar” (de As bicicletas em Setembro) e porque o conselho que a professora Odete, da escola primária, dava é de mestre: “Não tenham medo das palavras. As palavras gostam de quem lhes quer bem.” (de A bolsa da avó palhaça).
Aditamento em 27 de Novembro, às 18h48: Este texto não saiu no Correio de Setúbal de hoje por razões de espaço. Sairá numa próxima edição (na de sábado, suponho).

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