terça-feira, 25 de março de 2008

O caso do telemóvel no "You Tube"

Obviamente, é caso que continuará a apaixonar a opinião, porque, de repente, todos fomos confrontados com o que "parecia" não existir por cá. Entre a falta de educação e a falta de autoridade da escola (e dos professores), entre as acusações ao passado e as intrigas com o presente, entre as frases e explicações foleiras e bacocas e as teorias sobre as origens deste descrédito, entre a política a aproveitar-se e a política que não sabe resolver... há de tudo. No fundo, a questão permanece: como resolver problemas de violência na escola e na sala de aula? qual a política para lidar com este tipo de situações? Três excertos de opiniões sobre a história do telemóvel que originou uma cena lamentável e foi posta a correr no "You Tube": dois, dos diários de hoje; um, da blogosfera.
1. João Miguel Tavares, “Nem anjos inocentes, nem geração rasca”, Diário de Notícias, hoje - "(...) Doses cavalares de mimo, desaparecimentos de Maddies e problemas de consciência de pais ausentes compõem uma fórmula de tal forma explosiva que as criancinhas se transformam em flores de jarra às quais parece mal tocar até com um dedo. O meu pai contou-me no outro dia que em miúdo levou um tabefe porque ao cumprimentar um adulto o tratou por "você" em vez de "senhor". Não é a este tempo que queremos voltar. Mas é preciso encontrar o equilíbrio entre distribuir sopapos por faltas de cortesia e não poder puxar uma criança para um canto sem se ser ameaçado com a polícia. Já é hora de acabar com o mito do bom rebelde. As crianças não são seres angélicos que o mundo corrompe. São bicharocos nem sempre encantadores, muitas vezes cruéis, que têm de ser educados para a vida e para se comportarem devidamente em sociedade. Alguém se esqueceu de fazer esse trabalho com aquela miúda do Porto, dez anos atrás. Tão simples - ou tão complicado - quanto isso."
2. Miguel Gaspar, “A turma do You Tube”, Público, hoje - "(...) A reacção dos actores políticos não ajudou. Toda a gente procurou contornar o caso à sua maneira. A direita recuperou-o para atacar o dificilmente defensável estatuto do aluno, mas o ponto não era esse. A ministra chegou à brilhante conclusão de que "o Código da Estrada não evita os acidentes" (e por isso julgo que a receita que melhor serve o Ministério da Educação é a do senador John McCain para o Irão: "Bomb, bomb, bomb, bomb"). Na reflexão à volta do caso há a tendência do costume para filosofar sobre as causas profundas e mergulhar em discursos apocalípticos em vez de pensar numa solução. Sendo inegável que a desautorização dos professores pelo Governo tornou obviamente mais fáceis comportamentos deste tipo. Como é verdade que este episódio apenas trouxe à luz do dia uma realidade conhecida há muito. Não tenho respostas para o problema; só sei que aqui está em jogo uma questão de direitos. Aqueles alunos não foram capazes de respeitar os direitos daquela professora e nenhuma pedagogia democrática pode excluir o respeito pelos direitos do outro. Não é um problema de "autoridade" ou de "liberdade". Nenhum sistema de ensino que tolere este tipo de comportamentos pode sequer funcionar. Por isso eu esperaria que os actores políticos respondessem a uma pergunta concreta - como combater a violência na escola e na sala de aula - em vez de divagarem ou de negarem o problema. Isso é repetir o equívoco que o sistema não conseguiu superar há três décadas."

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