segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Ainda sobre os 500 euros do dia 12 de Setembro

Na "Pública" de ontem, inserida no Público, Daniel Sampaio assinou crónica com o título "500 euros". Eis a parte final.
«(...) Quanto ao prémio de 500 euros (uma quantia conhecida por ser o símbolo da precariedade do trabalho juvenil...), penso o seguinte: concordo que se introduza a questão do mérito, porque a ideia de uma "escola de afectos" - onde escrever com erros ou errar nas contas não tinha importância - não faz sentido, mas é preciso ser prudente quando se trabalha com jovens. Que valores se estão a transmitir? Que significa ser o "melhor" numa escola com várias culturas? As oportunidades para chegar ao topo foram comparáveis? É de pressupor que o estudante dos 500 euros seja um bom aluno, com razoável apoio familiar e casa organizada, e surja integrado numa turma onde a indisciplina não é a regra. O problema é que a escola não é uma empresa, que premeia com finalidade o operário que "produz" mais: é uma organização complexa onde diversas variáveis contribuem (ou não) para o êxito. Por isso, a atribuição de prémios deveria pressupor uma avaliação criteriosa do trajecto do estudante, a cargo do conselho pedagógico, com particular atenção ao esforço realizado, às condições de partida e ao progresso obtido, ao empenhamento do aluno na melhoria da escola e até à sua capacidade de contribuir para um bom relacionamento interpessoal na turma.
Ninguém melhor do que os professores saberá distinguir "o melhor", numa perspectiva de valorização das qualidades pessoais do aluno: para além do "sucesso" numérico, os prémios deveriam assinalar o rigor, a exigência pessoal, o sentido ético no relacionamento, o empenhamento em projectos colectivos, o que se poderia conseguir através do preenchimento, por um júri, de uma série de quesitos conhecidos com antecedência.
Ao distribuir cheques de 500 euros, o Governo premeia o "produto", em vez de incentivar a pessoa. Estimula uma competição onde as regras não são iguais à partida. Gratifica o número do "resultado", sem olhar para o percurso. Em derradeira análise, elogia quem parece cortar a meta em primeiro lugar, sem olhar para os meios de que se serviu o "vencedor", nem para as vicissitudes do percurso dos "vencidos". E chamam a isto "educar"...»

1 comentário:

Anónimo disse...

E chamam a isto "educar"...»

E quem disse que a preocupação do actual governo é educar?
Já nem instruir é, quanto mais o resto!
MCT