sábado, 27 de dezembro de 2008

Ainda sobre os 90 anos do fim da I Grande Guerra

Uma página do Expresso de hoje é dedicada ao fim da Primeira Guerra Mundial, a propósito dos 90 anos que, neste ano, passaram sobre esse acontecimento. O texto é simples, enunciando uma série de coisas sabidas sobre as consequências desse conflito. Associa a infografia e desenhos com alguns dados sobre os truques que o belicismo da época usou – dirigível, tanque, metralhadora, gás ou submarino – e indica alguns “mitos e curiosidades” associados – gripe pneumónica, o transporte de reservas em táxis para a frente do Marne, o ataque alemão ao Funchal, o fogo sobre Paris e os mortos portugueses em África.
No texto, de Rui Cardoso, é dito que a efeméride dos 90 anos sobre o Armistício (passados em Novembro) foi comemorada “em quase toda a Europa, excepção feita a Portugal, também país beligerante”. A verdade é que, nesse conflito, Portugal teve mais de 7 mil mortos, a maior parte dos quais no norte de Moçambique.
Habitualmente, fala-se da presença de Portugal na Primeira Grande Guerra no cenário da Flandres, esquecendo-se o esforço que foi feito nos cenários de África (Moçambique e Angola), questão que já na altura foi contestada, porque os louros da memória (se os havia) iam sempre para os soldados que tinham rumado para a Flandres e quase nunca para os que tinham combatido ou perdido a vida em África.
Mas a memória tem destas coisas. Os 90 anos sobre o Armistício passaram e Portugal quase não se manifestou. Ainda houve, mais ou menos por essa altura de Novembro, uma reportagem na televisão sobre a guerra de trincheiras. Mas, na verdade… nada mais se ouviu dizer. Que contraste com o que se passou noutros países europeus que, como nós, viveram essa guerra, mas, tão diferentemente de nós, continuam a honrar os compromissos da memória! As razões podem ser muitas, históricas mesmo. Mas sobressai uma, que é a de uma má relação com a memória, que em Portugal se vai aboletando…
No último número de Ligne de Front, dedicado à Guerra de 1914-1918, Franck Segrétain escreveu sobre a participação portuguesa, considerando-a um “effort trop lourd pour le Portugal”, assim descrita: “De 1916 à 1918, le Portugal a envoyé en France 3374 officiers et 51709 hommes. Ils ont perdu 74 officiers et 2012 hommes morts, 256 officiers et 4968 hommes blessés et 7740 prisonniers de guerre. Au total, il a mobilisé 108100 hommes et perdu 35623 tués et blessés sur le front Ouest mais aussi sur mer et en Afrique, notamment en Mozambique”.

Veteranos ingleses da Primeira Grande Guerra Henry Allingham, Harry Patch e Bill Stone, nas cerimónias de Novembro de 2008 em Londres (revista Hello, 1048, 25.Nov.2008)

1 comentário:

Anónimo disse...

Teremos esta má relação com a memória porque não nos estimamos quanto devemos? Não nos estimamos porque não preservamos a nossa memória? Não sei. Só sei que lamento.
Confrontei-me há pouco tempo com o modo como os britânicos se relacionam com as suas memórias. E tirei-lhes o meu chapéu!
Revistas e jornais não deixaram silenciar estes 90 anos, minutos de silêncio em espaços públicos e flores em vários locais relembrando
a data. Famílias visitando com as suas crianças locais e museus relacionados com este violento momento da História que não é só deles.
É de todo o mundo e, de certeza, também português (pelo sangue e pelo sofrimento de muitos dos nossos que nesta guerra lutaram).
MCT