domingo, 5 de abril de 2009

Nove máximas lidas em Mia Couto

1. “O fruto se sabe maduro pela mão de quem o apanha.” (in “As três irmãs”)
2. “Envelhecer é ser tomado pelo tempo, um modo de ser dono do corpo.” (in “O cesto”)
3. “Falar é fácil. Custa é aprender a calar.” (in “O adiado avô”)
4. “Um pobre não sonha tudo, nem sonha depressa.” (in “Meia culpa, meia própria culpa”)
5. “O homem é tão velho quanto a sua idade e a mulher é tão velha quanto parece.” (in “Na tal noite”)
6. “Diz-se que a tarde cai. Diz-se que a noite também cai. Mas eu encontro o contrário: a manhã é que cai. Por um cansaço de luz, um suicídio da sombra. (…) São três os bichos que o tempo tem: manhã, tarde e noite. A noite é quem tem asas. Mas são asas de avestruz. Porque a noite as usa fechadas, ao serviço de nada. A tarde é felina criatura. Espreguiçando, mandriosa, inventadora de sombras. A manhã, essa, é um caracol, em adolescente espiral. Sobe pelos muros, desenrodilha-se vagarosa. E tomba, no desamparo do meio-dia.” (in “A despedideira”)
7. “Os homens [atribuem] aos peixes as indecorosas ganâncias que [são] da exclusiva competência humana. [Adjectivam] a peixaria: os mandantes do crime são chamados de ‘tubarões’. Os poderosos da indecência são ‘peixe graúdo’. Os pobres executantes são o ‘peixe miúdo’. E, afinal, onde não há crime é lá dentro das águas, lá é que há a tal de propalada transparência.” (in “O peixe e o homem”)
8. “Criancice é como amor, não se desempenha sozinha. Falta[] aos pais serem filhos, juntarem-se miúdos com o miúdo. Falta[] aceitarem despir a idade, desobedecer ao tempo, esquivar-se do corpo e do juízo. Esse é o milagre que um filho oferece – nascermos em outras vidas.” (in “O Rio das Quatro Luzes”)
9. “O tempo é um fruto: na medida, amadurece; em demasia, apodrece.” (in “Uma questão de honra”)
Mia Couto. O fio das missangas (2004).

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