domingo, 28 de março de 2010

Alexandre Herculano nasceu há 200 anos

Alexandre Herculano, por João Pedroso (1877)

Passam hoje 200 anos sobre o nascimento de Alexandre Herculano. Vale a pena evocá-lo por tudo aquilo que ele simbolizou como homem de cultura e de pensamento, é verdade. Mas também podemos lembrar Herculano, sobretudo nós que vivemos aqui ao pé da Arrábida, pelos seus laços a esta região, designadamente à serra da Arrábida.
É dele um dos mais românticos poemas sobre a serra, intitulado “A Arrábida”, escrito em 1830, com dedicatória para o liberal Rodrigo de Fonseca Magalhães (1787-1858) e depois inserido na obra A harpa do crente (1838). Nas suas 17 partes, este longo poema canta as maravilhas da Natureza, põe o homem e Deus frente a frente e exalta a liberdade. É desse texto que se transcreve uma estrofe:

Oh, que viesse o que não crê, comigo,
À vicejante Arrábida de noite,
E se assentasse aqui sobre estas fragas,
Escutando o sussurro incerto e triste
Das movediças ramas, que povoa
De saudade e de amor nocturna brisa;
Que visse a Lua, o espaço opresso de astros,
E ouvisse o mar soando: ele chorara,
Qual eu chorei, as lágrimas do gozo,
E, adorando o Senhor, detestaria
De uma ciência vã seu vão orgulho.

A ligação de Alexandre Herculano a esta região foi já divulgada num pequeno ensaio de José Paulo Vaz, Herculano em Sesimbra – Subsídios para uma Biografia de Alexandre Herculano (Sesimbra: ed. Autor, 2005), e a Arrábida como motivo de um seu poema não é de estranhar, uma vez que, além de a serra poder configurar um cenário excelente para a estética romântica, Alexandre Herculano conhecia bem a região, pois foi arrendatário da Quinta do Calhariz por um período de quase uma década (1854-1863). Bulhão Pato, que era amigo e visita de Herculano, registou uma ida ao Calhariz em 1856, dando testemunho sobre o sentido prático e o humor do amigo (“A Casa da Ajuda de 1847 a 1851”. Memórias – I. Lisboa: Perspectivas e Realidades, 1986):

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