sexta-feira, 16 de abril de 2010

"Portugal nas Trincheiras", uma exposição a ver (em nome da memória)


“Portugal nas Trincheiras” é o título de exposição patente nos Museus da Politécnica (Lisboa) até 23 de Abril, organizada pelo Museu da Presidência da República. Subintitulada como “a I Guerra da República”, a participação portuguesa no conflito mundial de 1914-1918 bem merece uma visita, seja por razões de contacto com a história e com a memória, seja por uma questão de identidade.
Esta exposição devia estender-se a outros sítios de Portugal. Na verdade, ela poderia dar vida e ajudar a justificar os monumentos que os nossos antepassados ergueram pelo país em memória dos homens que partiram rumo a África e à Flandres, num reavivar da História, uma vez que os quase cem anos que nos separam desse conflito, a passagem por outras histórias e alguma traição da memória nos têm levado a esquecer o que foi a saga portuguesa na Primeira Grande Guerra.
Nesta exposição “Portugal nas Trincheiras”, os núcleos temáticos são diversos – desde a contextualização dos acontecimentos até à forma como Portugal entrou na guerra, com chamadas de atenção para o quotidiano das trincheiras e para a batalha de La Lys, obviamente, mas também passando pelos Serviços de Saúde, pelo papel das mulheres, pelo estatuto dos capelães (com destaque para o caso de D. José do Patrocínio Dias, o chamado “bispo-soldado”), pelas ligações estabelecidas entre os portugueses e os naturais da região em que o CEP interveio, pelas dificuldades encontradas pelos portugueses para regressarem a Portugal, pelos políticos lusos envolvidos nas decisões da guerra, pela memória.
O visitante vê fotos (testemunho trazido pela objectiva de Arnaldo Garcez, sobretudo), desenhos (devidos a Sousa Lopes e a Carlos Carneiro, por exemplo), objectos, armas, utensílios, manuscritos, alguns livros... e sente o que foi o esforço da nossa participação.
Creio que teria valido a pena mostrar mais exemplares de escrita memorialística da nossa entrada na Grande Guerra (reduzir esses escritos a Jaime Cortesão, Pina de Morais, André Brun e Augusto Casimiro é pouco, apesar de serem os mais conhecidos e, talvez, os mais importantes). Creio ainda que teria valido a pena a edição de um catálogo a propósito (a exposição é apenas acompanhada por um jornal de quatro páginas que contém os textos introdutórios de cada secção, algumas fotografias e a ficha técnica e o visitante pode ainda adquirir a segunda edição do nº 4 da revista Visão – História, originalmente saída em Fevereiro de 2009, dedicada ao tema “I Guerra Mundial – Portugal nas Trincheiras”).
Ver a nossa passagem pelas trincheiras da Flandres é útil, em nome da História. Mas, sob o signo “A I Guerra da República”, também poderia ter cabido a nossa acção em África aquando da I Grande Guerra. E esse lado da nossa participação não ressalta na exposição.
Apetece destacar o penúltimo parágrafo do jornal da exposição: “Longe das apropriações ideológicas de outros tempos e de preconceitos em assumir o passado, importa reavivar um acontecimento e uma época que fazem parte da nossa memória colectiva. Assim o fazem as outras nações das quais Portugal foi aliado, com as comemorações anuais da Grande Guerra.” Este pode ser um apelo para a lembrança, porque esta fase da nossa História tem sido esquecida, ainda que, de vez em quando, ela seja lembrada (honra seja feita à literatura portuguesa, que, já no século XXI, produziu alguns bons romances históricos, com histórias contextualizadas na nossa participação na Grande Guerra!).
Felizmente, algumas acções se vão vendo por estes tempos! A realização desta exposição pode ser um sinal, claro. Mas, aqui bem perto, a Sesimbra, a memória chegou também: o dia 9 de Abril possibilitou uma conferência sobre o tema, devida a Abílio Lousada, e uma “evocação dos soldados participantes na I Grande Guerra” junto ao monumento ali construído recentemente.

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