terça-feira, 6 de julho de 2010

Memória: Matilde Rosa Araújo (1921-2010)

Não sei quando conheci Matilde Rosa Araújo, mas foi há muito tempo, há muito, quando comecei a ser leitor, talvez, ou um pouco mais tarde. Sempre gostei da simplicidade e dos valores que Matilde fazia perpassar pela sua mensagem. Uns anos mais tarde, no início da década de 90, conheci-a pessoalmente, graças ao Manuel Medeiros, numa sessão havida na Culsete, espaço onde, nos anos seguintes, a vi mais vezes. Recordo desse primeiro encontro a afabilidade, a ternura, a quase ingenuidade e a calma que irradiava, num falar sereno e num querer saber interessado. Estas marcas mantiveram-se nos encontros seguintes e, em cada uma dessas vezes, eu sentia estar perante alguém que sabia muito e que parecia ter a curiosidade das crianças.
Depois, em virtude da Associação Cultural Sebastião da Gama, contactei Matilde Rosa Araújo mais algumas vezes. E, em cada vez que se falava do "Poeta da Arrábida", o seu rosto iluminava-se e arrebatava, num rememorar do que fora o são convívio e a amizade entre eles e numa insistência da educação através do amor, pedagogia absolutamente única.
Quando, hoje, a Joana Luísa me telefonou a noticiar a morte de Matilde Rosa Araújo, fiquei triste. Não porque este desfecho não fosse esperado, porque sabia o declínio em que Matilde tinha entrado em termos de saúde; mas porque sentia estar a partir alguém muito bom, alguém com quem era um gosto aprender e conversar. Minutos depois, ouvi nas notícias o testemunho de António Torrado, que dizia ter sido Matilde Rosa Araújo "a fada madrinha" de muitos escritores de literatura dedicada à infância e à juventude, ao mesmo tempo que sublinhava aquele seu saber. E quando, a meio da manhã, encontrei ocasionalmente Pedro Tamen e, na conversa, lhe noticiei a morte da Matilde, ele teve apenas um comentário: "Das várias vezes que a contactei, sempre a vi como uma pessoa excepcional".
Fica-me, pois, a memória da escritora (que poderei revisitar sempre que queira, felizmente) e também a recordação da bonomia em pessoa, que, nos nossos curtos encontros, me marcou e me ensinou.
Ver mais aqui e aqui.
[foto: Matilde Rosa Araújo, Sebastião da Gama e Maria Alice Botelho Moniz, em Dezembro de 1947, momentos depois de Sebastião da Gama ter levantado da tipografia os primeiros exemplares de Cabo da boa esperança]

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