terça-feira, 9 de agosto de 2011

Antonio Tabucchi, «Mulher de Porto Pim»

Mulher de Porto Pim é um livro de Antonio Tabucchi (Lisboa: Difel, 1986) que tem como motivo os Açores, escrita que surge como resultado de uma estadia no arquipélago, ainda que não se trate de um diário de viagem (“género que pressupõe tempestividade de escrita ou uma memória impermeável à imaginação que a memória produz”).
Aqui se fala de naufrágios, dos baleeiros, da caça à baleia (valendo a pena comparar a narração de Tabucchi com a que Brandão também nos legou em As Ilhas Desconhecidas, da década de 1920), de conversas ouvidas, de histórias contadas e de Antero, essa figura que “sofria de infinito”.
Há história e impressões, há experiência de viajante e de curioso. E há anúncios que passam pela história das baleias e dos açorianos – a baleia como arquétipo e a premonição do fim dos baleeiros (no final do episódio da caça, quando o velho Carlos Eugénio quer saber o motivo de o visitante ter querido participar na saga, há a hesitação e o desabafo: “talvez porque ambos estão em extinção, digo-lhe por fim em voz baixa, vocês e as baleias, penso que foi por isso.”) E há uma narrativa, confiada pelo narrador Lucas Eduíno, que toma para título o homónimo do livro – “Mulher de Porto Pim”, história de Yeborath, cume de beleza, morta com um arpão, narrativa a que não falta a intriga amorosa, a prisão, a morte, o sentimento da traição, o triângulo amoroso, numa acção algo ao gosto camiliano. E há, no final, como “post scriptum”, a personificação num texto como “A baleia que vê os homens”, algo irónico, que deixa o cetáceo a pensar sobre os homens: “percebe-se que são tristes”.

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