segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Agostinho da Silva, biógrafo de Pestalozzi

A Vida de Pestalozzi, de Agostinho da Silva (Lisboa: ed. Autor, 1943), é uma biografia do pedagogo suíço Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) que Agostinho da Silva integrou numa colecção de biografias por si editadas no início da década de 1940, esta publicada justamente no ano em que Agostinho da Silva foi preso no Aljube.
O leitor que se confronte com esta biografia corre atrás da história que é contada. Alheia a datas, o que a determina é a acção do biografado, associada às contrariedades que minaram o seu projecto e eivada de sublinhados quanto a valores. De facto, Agostinho da Silva poucas datas refere – além do ano de nascimento do biografado, poucas mais são registadas, ainda que na maior parte dos casos as escassas datas apontadas estejam ligadas a acontecimentos históricos contemporâneos de Pestalozzi. No limite, nem a data de morte do pedagogo é referida, ainda que seja dado a entender que ela aconteceu depois dos oitenta…
A insistência de Agostinho da Silva vai para a obra de Pestalozzi e para os princípios que a nortearam, sobrevalorizando a tarefa da educação, e para a persistência com que este rousseauniano enfrentou as adversidades, fossem elas de origem económica ou social. O propósito de Agostinho da Silva parece ser pedagógico, sobretudo, chamando a atenção para os valores da determinação, da necessidade da educação para todos, da força das convicções.
Assiste-se ao peregrinar de um homem que não desiste, que acredita num projecto, que foi rejeitado por muita gente, desde vizinhos a políticos, ao mesmo tempo que a sua escola recebeu a visita de figuras gradas da época, como a Mme. de Stael ou Fichte, ou foi por si apresentada a outras como, por exemplo, Goethe. Na bagagem, Pestalozzi tinha apenas o seu projecto, o seu ideal: uma escola que devia ser para os alunos, sobretudo para os pobres, “uma experiência de vida; por consequência, o que lhe compet[ia] sobretudo, como mestre, [era] orientar, ensinar a fazer”, porque acreditava que “o professor que faz, embotando a iniciativa do aluno, o que o impede de agir, é um mau professor” e “só o contacto com os problemas e as dificuldades, só a busca interessada das soluções são capazes de educar”.
Pelo caminho, vai ficando registo da obra de Pestalozzi, das invejas de grupos ou individuais, da luta por um ideal, da importância de Ana (a mulher de Pestalozzi), da tenacidade e da fé, do esforço, havendo ainda lugar para as traições de discípulos.
Cerca de cem páginas depois de ser relatado o nascimento de Pestalozzi em Zurique, o narrador relata o funeral, ponto final no percurso, rumo à escola cuja ideia ele alimentara. “Sobre a última terra a neve caía, rápida e leve, em flocos ligeiros. Mais tarde, plantaram na campa uma roseira; e em cada primavera as rosas desabrocharam e vieram trazer aos homens, sob uma forma nova, a perpétua juventude e amor ardente de Henrique Pestalozzi.”

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